visual.
A nova percepção da realidade conturbou a Europa do século XIX. Como entender que a fotografia viria para ficar, a não ser em substituição às tradicionais formas de representação?
A pintura há muitos séculos, privilégio de alguns poucos aristocratas, democratiza-se com o aparecimento da fotografia, o nobre deixa de ser o único a poder fazer-se reproduzir e ostentar.
Essa corresponde a uma fase particular da evolução social para o modernismo. A ascensão da burguesia representava um maior significado político e social.
De todas as manifestações artísticas, a fotografia foi a primeira a surgir dentro do sistema industrial. O mercado encontrava-se numa fase de profunda mudança, pode-se dizer que a fotografia neste contexto atingiu a todos por meio de novos produtos, ela possibilitou a maior democratização do saber, tornando o mundo portátil e ilustrado.
Assim como a Revolução Industrial não eliminou o sistema de manufaturas, mas enfraqueceu-o como fonte de renda e trabalho, a fotografia trouxe a veracidade e seu surgimento contribuiu diretamente para que todos os segmentos artísticos passassem por uma profunda reflexão,evidenciando as relações que unem o período
introdutório à fotografia com a evolução da própria sociedade.
Desde o final do século XIX, vários métodos para a produção de imagens fotográficas coloridas foram
propostos, mas nenhum deles mostrou-se viável para trabalhos fora de laboratórios. O domínio da cor na
fotografia e sua utilização no dia-a-dia tornaram-se realidade em 1935, quando a companhia fotográfica
norte-americana Kodak desenvolveu o processo Kodachrome, que reunia em uma única película de emulsão todas as camadas de material sensível às cores primárias. Estas camadas eram formadas por materiais de diferentes composições, que permitiam a revelação da mesma película com banhos diferentes para a produção das cores
primárias, formando a imagem positiva colorida.
Com o surgimento dos filmes coloridos, muito se falou no fim da fotografia preto-e-branco. Mas sabemos que isso não aconteceu. Esta sobreviveu tornando-se uma opção artística, os filmes preto e branco tem maior riqueza de tons, além de facilitar a abstração das imagens, o que nos permite criar algo que não é um
registro, mas sim um diferencial. A falta de cor torna a imagem registrada mais distante do nosso olhar (colorido), o que facilita a busca de um registro além da realidade (poesia fotográfica), ou de uma outra realidade já extinta despertando saudosismo. Sem a presença das cores podemos perceber melhor as formas, expressões e tonalidades.
A introdução da cor, porém, não significou uma revolução conceitual na fotografia. A cor teve, com efeito, um impacto relativamente pequeno no conteúdo e estética, apesar de ter eliminado o último obstáculo utilizado pelos críticos do século XIX para lhe negarem o estatuto de arte.
Cada vez mais aperfeiçoada, a fotografia iria desempenhar um papel decisivo como forma de documentação e dado
informativo. Ao mesmo tempo a introdução da cor na fotografia reforçava de certo modo a sensação de realismo.
Co-existem, agora, a fotografia química e a eletrônica.
Atribuem-se ao século XIX a invenção e aperfeiçoamento da técnica fotográfica. Ao século XX a evolução das aplicações, controles, cor e o formato digital na fotografia, cinema, televisão e todos os usos científicos. Com a foto eletrônica a matriz fotográfica torna-se intangível, ou seja, desaparece o filme. É Virtual
por definição, não palpável, ela está ausente do mundo das coisas concretas.
A fotografia vive uma crise de identidade com a revolução digital, similar à que a pintura enfrentou com a invenção da fotografia. A evolução da linguagem fotográfica segue, em estreita dependência do seu contexto histórico, numa relação evidente entre a evolução da linguagem e as condições sociais em que a fotografia, enquanto meio de expressão evolui.
A fotografia digital não é novidade no meio científico. Ela foi desenvolvida na década de 60, durante o período da “Guerra Fria”, quando os Estados Unidos e a extinta União Soviética, pela disputa ideológica e espacial, dividiam o mundo com imagens de vôos espaciais, transmitidas às bases terrestres através do sistema digital, ainda embrionário. A partir dos anos de 1990 a nova tecnologia começou a chegar ao grande publico
e, desde então, a fotografia vem experimentando uma grande transformação, com forte impacto nas empresas do setor e usuários de câmeras.
Hoje temos à disposição ferramentas para capturar uma imagem de forma digital, ou digitalizar imagens já existentes e facilmente manipulá-las em praticamente todas as suas propriedades, desde saturação, brilho, contraste e nitidez, até a própria forma dos elementos que compõem a foto. Muitos têm criticado esta
manipulação digital, porém o que ocorre é a sofisticação dos recursos de edição e montagem, sempre utilizados por fotógrafos.
A fotografia tem sido um campo vasto de pesquisa com o objetivo de reproduzir imagens do mundo que nos cerca. É difícil prever o futuro da fotografia, mas uma coisa é certa: a fotografia digital veio para ficar. O que não significa, de modo algum, o fim da fotografia química.
Muitos mecanismos e processos diferentes surgiram e desapareceram ao longo dos séculos e muitos ainda virão e desaparecerão, mas sempre haverá nostálgicos, com suas máquinas manuais e filmes em P&B. Isto não é ser
desatualizado, é apenas uma diferenciação daforma de se expressar. E também cada vez mais surgirão os entusiasmados pelo novo. Porém, alguns princípios básicos são constantes ao longo de toda a história, apesar dos diversos meios e recursos utilizados para se chegar ao mesmo objetivo: registrar na lembrança, a existência.
Neste aspecto a fotografia digital ainda não cumpre a sua função, considerando que as mídias eletrônicas, devido à rápida obsolescência tecnológica, ainda não encontraram um meio seguro de preservação como os sistemas fotográficos anteriores.
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